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Entrevista: Emídio Pinheiro, Presidente do Conselho de Administração da EGF

1.A sustentabilidade inclui múltiplas áreas de ação: ambiental, social e económica. Que caminho seguiu a EGF em todas estas dimensões?

A sustentabilidade faz parte do ADN da EGF. É uma característica orgânica: não cumprimos a nossa missão se o desenvolvimento que promovemos e as suas consequências não forem sustentáveis. Recorde-se que a nossa missão é lidar com o desperdício urbano de cerca de 60% da população portuguesa e valorizá-lo. As pessoas consomem, utilizam e lidam com recursos todos os dias, exigindo um tratamento adequado, com segurança, qualidade e o menor custo possível.

É neste quadro que a nossa tarefa é clara – temos de executar o melhor serviço ambiental de acordo com os objetivos e de gerir os recursos coletivos com eficiência e eficácia, o que se traduz em atingir um custo justo para todas as partes, considerando que prestamos um serviço público essencial.

Ao longo dos seus 75 anos de história, atingidos em 2022, a EGF sofreu muitas transformações, algumas bastante profundas. A mais notável a contribuir para o que somos hoje sucedeu quando o foco e a atividade foram orientados exclusivamente para o sector ambiental e para a gestão dos resíduos.

Neste contexto, a EGF e as empresas concessionárias em que tem participações foram motivadas pelo desenvolvimento sustentável do país e das regiões onde operam. Houve, por exemplo, o encerramento de depósitos de resíduos públicos; a construção de infraestruturas que valorizam os resíduos; a introdução de uma recolha seletiva geral de embalagens; a produção de energia a partir de resíduos recolhidos ou a promoção da sensibilização e da comunicação com os cidadãos.

2.As cidades caminham agora para uma realidade descarbonizada. Na sua opinião, Portugal está a adotar as medidas necessárias para cumprir estes objetivos no prazo esperado?

Portugal está certamente a talhar o seu caminho com planos ambiciosos numa fase em que existem muitas condições adversas em várias áreas, como a situação atual da produção e distribuição de energia e matérias-primas, da seca severa na maior parte do país e da elevada inflação.

No que diz respeito à EGF, é significativo mencionar a elaboração de um inventário das Emissões de Gases com Efeito de Estufa (GEE) dos anos 2019 e 2020. Este inventário teve como principal objetivo a elaboração de um plano de ação que permitirá atingir novos objetivos no que diz respeito à redução de GEE nas concessionárias da EGF, para que possamos acompanhar o objetivo do país de alcançar a neutralidade carbónica em 2050.

3.A consciencialização ambiental é um tema que tem agora particular importância para o EFG. Qual é o melhor caminho para sensibilizar os cidadãos para a questão da sustentabilidade e da preservação do ambiente?

A educação e a sensibilização ambiental são pontos fundamentais em todo o processo de gestão dos recursos e dos resíduos, uma vez que o cidadão é o início de tudo. Nós, cidadãos, não podemos ser perspetivados como meros produtores de resíduos que descartam tudo o que compram; devemos assumir o nosso papel de gestores de recursos – tanto dos nossos como dos comunitários. Se este papel for entendido e esta responsabilidade existir, o processo de valorização dos recursos e, na realidade, também das matérias-primas, vai ganhar valor.

Para cumprir este objetivo, a EGF e as suas concessionárias promovem iniciativas nas escolas; na área do comércio; na área do planeamento de eventos; nos mercados; em empresas e instituições. Já o fazemos há muitos anos e acreditamos que é um processo sistemático e consistente que garante uma mudança de comportamento. No ano passado, ainda um ano atípico influenciado pela pandemia, o grupo EGF promoveu ações diretas em comunidades envolvendo cerca de 1 milhão de pessoas. Este ano, com a retirada das restrições e uma atividade social crescente, esperamos aumentar ainda mais o envolvimento dos cidadãos.

4.A Linha da Reciclagem é o mais recente projeto da EGF. Como vê a possibilidade de integrar este serviço e as respostas a todas as questões e problemas sentidos pelos cidadãos que não sabem o que fazer com os seus resíduos?

No dia 27 de outubro de 2021, a EFG iniciou um novo serviço de contacto e apoio aos cidadãos – a Linha da Reciclagem – um serviço GRATUITO, NACIONAL, À MEDIDA, criado para dar respostas eficientes aos cidadãos, nomeadamente para responder a perguntas, pedidos de informação, sugestões, reclamações, elogios e pedidos de serviço.

Com este serviço, todas as formas de contacto com as concessionárias foram integradas, o que permitiu uma maior eficácia na gestão do serviço de recolha seletiva e do contacto dos cidadãos. A adesão e a utilização da Linha de Reciclagem ultrapassaram as nossas expectativas mais positivas, deixando claro que os cidadãos estão efetivamente empenhados no processo de perceção dos resíduos que produzem e que querem contribuir através das suas ações para uma sociedade mais sustentável.

Curiosamente, há muito maior volume de questões vindas de zonas do país que não pertencem às áreas de concessão da EGF e relacionadas com assuntos e resíduos que não gerimos. No entanto, e sempre que possível, damos uma resposta a todos os cidadãos que nos contactam, mesmo que indiquemos apenas o caminho ou o contacto, para que o problema possa ser resolvido com a instituição certa.

Respondendo de uma forma mais direta à sua pergunta, já estamos a fornecer soluções a todos os cidadãos, mas ainda temos muito espaço para evoluir e garantir uma melhor qualidade na resposta.

5.A dimensão social deve estar sempre associada aos projetos nas cidades. Segundo o seu estudo, esta ideia é atualmente considerada no início de novos projetos?

Se a dimensão social não for considerada, qualquer projeto estará incompleto e mais cedo ou mais tarde serão encontradas dificuldades. Na nossa situação e na nossa gestão de atividade, a dimensão social está no cerne dos projetos – quando avaliamos os resíduos produzidos diariamente pelas pessoas, os projetos devem considerar variáveis como a localização, a quantidade de resíduos produzidos e as perspetivas de evolução ou o envolvimento da comunidade. Posso garantir-lhe que, no que se refere a novos projetos de apreciação de resíduos, a dimensão social é extremamente relevante, e que se não lhe for dada a importância correta, os projetos não poderão ser realizados.

6.Para si, ser #BeyondGreen é...?

Ser #BeyondGreen é ser mais exigente e mais responsável. Não vale a pena disfarçar como “práticas verdes” as que já se mostraram como não sustentáveis. O que vale a pena fazer é fazer boas escolhas e tomar decisões que permitam ao planeta melhorar em comparação com aquele que a nossa geração encontrou.

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