Savills

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European Themes 2022

Análise da Savills indica que a descarbonização e o fortalecimento dos princípios ESG estão no topo da agenda da indústria imobiliária europeia.

 

O reforço de regulamentação e políticas orientadas para a sustentabilidade e descarbonização, a par da crescente exigência dos ocupantes por edifícios com elevadas credenciais ambientais, irá redirecionar o foco dos investidores para a renovação de ativos já existentes, afastando-se, assim, do potencial de emissões de CO2 associado à construção de novos edifícios. A conclusão é avançada pela análise European Themes 2022, da Savills, que mostra ainda que esta reconfiguração da cena imobiliária europeia criará novas oportunidades de investimento na Europa em 2022.

A intensificação das preocupações ambientais, a sua transversalidade multissetorial e a força cada vez maior dos princípios ESG (Environment, Social e Governance) têm levado o mercado imobiliário a eleger como umas das prioridades de topo a descarbonização do setor. Nesse sentido, vários players no mercado têm procurado avaliar a pegada carbónica dos ativos, de forma a poderem melhorar a sua eficiência energética e, assim, o seu potencial sustentável.

A consolidação esperada desta tendência deverá fazer surgir novas oportunidades de valor acrescentado, com um bom potencial de aumento dos valores das rendas, e, dessa forma, envigorar o mercado imobiliário europeu.

Em Portugal, os edifícios são responsáveis por cerca de 30% do consumo final de energia. O tema da sustentabilidade integra atualmente as agendas políticas europeias, com os compromissos de alcance da neutralidade carbónica a assumirem uma importância sem precedentes.

Em 2016, Portugal foi o primeiro país do mundo a assumir o compromisso de alcançar a neutralidade carbónica até 2050. Mas, numa Europa onde uma parte significativa do stock de edifícios é anterior à implementação de medidas de sustentabilidade energética, a tarefa potenciar a sustentabilidade no universo imobiliário é árdua. Desta forma, torna-se imperativo privilegiar a eficiência energética dos edifícios e transformar o parque de edifícios existentes, em linha com as expectativas da agenda ambiental internacional.

Escritórios, Laboratórios, Retalho, Logística e Alternativos: prioridades no mercado Europeu em 2022

No topo da lista dos melhores investimentos de valor acrescentado no âmbito desta “revolução sustentável” do mercado imobiliário, a Savills aponta as seguintes categorias de ativos: instalações laboratoriais localizadas em hubs de investigação e desenvolvimento; residências para estudantes em grandes cidades universitárias com pouca oferta de alojamento estudantil com gestão profissional; lares para a terceira idade e hospitais; data centers; parques de retalho e ativos de hospitality de alta qualidade em destinos turísticos consolidados.

George Coleman, Life Sciences Lead na equipa de Regional Investment Advisory EMEA da Savills, indica que «O segmento imobiliário das Ciências da Vida continuará a ser um foco. O setor sofre de uma escassez de oferta crónica em localizações-chave no Reino Unido e na Europa, ao passo que a procura está a crescer».

«Esperamos ver maior atividade de investimento em clusters-chave na Europa, à medida que os investidores aumentam o seu entendimento acerca deste setor em desenvolvimento e procuram tirar proveito dos fortes e estáveis market fundamentals que oferece», acrescenta.

A aplicação de novas restrições à mobilidade e a perspetiva de mais confinamentos, um pouco por toda a Europa, permitem antever a continuação do crescimento do comércio online em 2022 e, consequentemente, a procura por mais espaço de armazenamento. É esperado que o interesse dos investidores neste segmento se mantenha ao longo deste ano, com cerca de metade dos operadores de logística e dos retalhistas a preverem aumentos de capacidade de armazenamento até 2025.

Recentemente, a Savills, através do seu estudo European Real Estate Logistics Census, divulgou que Portugal encontra-se na lista dos cinco países europeus que conseguem atrair mais investimento para o setor logístico, ficando apenas atrás de França, Alemanha, Espanha e Itália.

A atenção dos investidores continuará também a incidir sobre o segmento de multifamily, enquanto classe de ativos core, ao passo que as residências para estudantes (PBSA – Purpose-Built Student Accomodation) e instalações para a terceira idade continuarão a crescer.

A Savills estima que a disseminação da variante Ómicron terá um impacto mais ligeiro na procura por escritórios, face ao que se observou no período 2020/2021. Tal deve-se ao facto de as empresas e negócios estarem agora melhor preparados para lidar com a pandemia e os seus efeitos.

Adicionalmente, os países europeus poderão começar a introduzir novas leis que potenciem a atração de talento para formatos de trabalho remoto. Destaca-se Portugal, por ter adotado legislação que torna o teletrabalho mais atrativo, com a proibição de os “teletrabalhadores” serem contactados pelos empregadores fora do horário laboral e a atração de “nómadas digitais” para o mercado português.

Contudo, espera-se a dinamização da procura para a ocupação de escritórios em países com condições laborais atrativas, na medida em que se verifica o aumento da adoção de modelos de trabalho híbrido e o reajustamento das necessidades neste setor. Escritórios em localizações prime com boas infraestruturas de transportes e fortes certificações energéticas deverão estar no centro da procura.

Chris Gillum, Head of Offices, Regional Investment Advisory da Savills, sublinha que «A flexibilidade tornar-se-á essencial para as estratégias dos ocupantes para o regresso ao escritório, centradas na colaboração, criatividade e interação. Muitas empresas continuarão a ser incapazes de planear longos períodos de arrendamento, e esperamos que empresas cada vez maiores explorem o mercado de flex office.».

O responsável acrescenta que o mercado de flex office representou, em 2019, 9% do mercado de escritórios europeu, valor que se espera voltar a atingir em 2022.

Nuno Fideles, Senior Architect, Sustainability Consultant & BREEAM AP refere que em Portugal, «esta procura de escritórios e logística que possam responder às políticas de responsabilidade social, ambiental e económica das empresas aumentou exponencialmente nos últimos meses. As grandes empresas que servem de referência ao mercado definitivamente adotaram os objetivos ESG, passando uma mensagem forte ao mercado imobiliário, obrigando-o a encontrar soluções de edifícios sustentáveis e flexíveis capazes de responder a estes critérios.».

Acrescenta que «Ter um edifício com uma certificação internacional em Sustentabilidade como o BREEAM ou o LEED, já não é um ‘nice to have’, mas sim um ‘must have’.».

A melhoria do desempenho ambiental dos edifícios, a adoção de princípios de circularidade, a potenciação da eficiência de recursos, o uso de materiais reciclados de base biológica e a promoção de estruturas verdes, são algumas das medidas que integram os planos de sustentabilidade energética do mercado imobiliário em Portugal.