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Entrevista a Ana Barbosa, Responsável de Sustentabilidade, IKEA Portugal

1.“Ter um impacto positivo e duradouro na vida das pessoas e do Planeta”, é a máxima da IKEA. De que forma é que a empresa assume este compromisso no dia-a-dia?

A sustentabilidade não é um tema de hoje para a IKEA. Para nós, é um tema basilar e transversal a todas as áreas de negócio. Temos a ambição de criar um dia a dia melhor e mais sustentável para a maioria das pessoas e inspirá-las a adotar hábitos melhores para o planeta com soluções que vão ao encontro das necessidades dos nossos clientes hoje, sem comprometer as gerações futuras. Procuramos ainda consciencializar os nossos clientes de que hábitos mais sustentáveis nos podem ajudar a reduzir as despesas mensais em energia, água e alimentação, por exemplo. E é por isso, que a sustentabilidade está integrada de uma forma estratégica, em todas as dimensões do negócio, desde a conceção, produção, e transporte dos nossos produtos, passando pela estratégia comercial, até às nossas operações, com metas ambiciosas de redução de pegada carbónica, incluindo a transformação num negócio circular, com impacto positivo nas pessoas.

No setor da energia, em Portugal não utilizamos combustíveis fósseis nas nossas operações diárias e toda a eletricidade que utilizamos é renovável, sendo cerca de 20% abastecida em autoconsumo de painéis fotovoltaicos colocados nas nossas lojas. Para além disso, temos grandes investimentos em energias renováveis, com o objetivo de cobrir 100% de energia renovável em toda a cadeia de valor.

Não podemos também esquecer que a sustentabilidade tem ainda um pilar social e aí, para além de termos uma estratégia de apoio a grupos mais vulneráveis da população, especialmente no que diz respeito ao direito a uma habitação digna, trabalhamos ainda os temas da igualdade, diversidade e inclusão, refletidos em resultados concretos como a paridade de género em posições de liderança e igualdade salarial ou em projetos de empregabilidade para refugiados ou outros grupos vulneráveis.

2.Têm o objetivo de, até 2030, inspirar mil milhões de pessoas, em todo o mundo a viver uma vida mais saudável e sustentável em casa. Como têm encarado este desafio e que iniciativas têm promovido neste sentido?

A nossa ambição de ter um impacto positivo nas pessoas e no planeta é muito desafiante, e percebemos que não podemos fazer este caminho sozinhos. Por outro lado, os nossos clientes dizem-nos que querem mudar os seus hábitos, mas por vezes não sabem como o fazer; não têm acesso a informação clara; desconhecem o impacto das suas ações e não podem pagar mais por produtos ou soluções mais sustentáveis. Neste contexto, acreditamos que a IKEA tem um papel determinante a influenciar a vida em casa das pessoas, apresentando soluções acessíveis, funcionais, bonitas e ao mesmo tempo mais sustentáveis.

Desde oferecer produtos feitos de materiais renováveis ou reciclados ou produtos, produtos que permitem poupar eletricidade ou água, produtos que são alternativas aos descartáveis ou até produtos multifuncionais, que podem viver várias vidas. Quando se trata de prolongar a vida de produtos, oferecemos também serviços que permitem isso mesmo.

Exemplos disso são o serviço de 2ª vida ou o serviço de peças sobresselentes.

Trabalhamos continuamente para melhorar a nossa operação evitando desperdício, e reaproveitando produtos devolvidos, de segunda vida ou de exposição, reencaminhando-os para a nossa área circular, onde podem ser vendidos e ter uma nova vida. Nas quase 400 lojas em todo o mundo, no último ano, conseguimos dar uma segunda vida a 40 milhões de produtos, sendo que 30 milhões de produtos foram revendidos através da Área Circular e as embalagens de mais de 9 milhões de produtos foram recuperadas de forma que esses produtos voltem ao stock da loja.

Acreditamos que assim conseguiremos contribuir para um mundo com menos desperdício e ajudar as pessoas a fazerem escolhas mais sustentáveis nas suas casas.

3.Na sua opinião, o fator sustentabilidade pode ditar o sucesso de uma marca?

Esta década é determinante. Estamos em urgência climática (reforçada pele mais recente relatório do IPCC) e a maioria das pessoas está preocupada com este tema e espero ação e liderança de grandes empresas. O que significa que a IKEA, assim como outras grandes marcas têm a responsabilidade e a oportunidade de fazer mais e mais cedo, como investimentos em energia renovável, inovar e testar novos materiais ou serviços. Desta forma, apresentamos soluções aos nossos clientes e contribuímos para um negócio em crescimento agora e no futuro. Um bom exemplo é a redução em valor absoluto da pegada carbónica da IKEA, que inclui toda a cadeia de valor. Desde 2016 esta pegada decresceu 12% enquanto o negócio cresceu cerca de 20%, demonstrando que é possível desassociar o crescimento do negócio do crescimento da sua pegada de CO2.

4.Quais são os grandes desafios na aplicação de práticas sustentáveis no setor?

Um dos grandes desafios do setor é a circularidade, nomeadamente na existência de infraestruturas que permitam fechar o ciclo de vidas dos produtos. Mas sabemos que as pré-condições existem e os consumidores estão mais exigentes com as marcas e cada vez mais interessados na circularidade e no mercado de segunda mão, o que pode impulsionar os progressos nesta área.

Por outro lado, é necessária também uma aceleração de processos para mais equidade e inclusão, que façam as nossas comunidades desenvolver-se de forma mais justa, e que permite suavizar impactos nos mais vulneráveis de crises económicas, ambientais ou outras.

Estamos a assistir, através dos nossos colaboradores e no mercado de trabalho em geral, como é relevante ser uma empresa com valores e passos dados na área de diversidade e inclusão para atrair e reter talento. Sabemos que ao promover a diversidade, teremos uma maior amplitude de talentos na nossa organização e será uma vantagem competitiva que irá contribuir para o desenvolvimento das pessoas e do negócio.

5.O consumidor é hoje mais exigente no que concerne à procura e aquisição de produtos produzidos de forma sustentável?

Sim, cada vez mais. Está cada vez mais consciente da gravidade das alterações climáticas e procura, nesse sentido, mais alternativas e soluções sustentáveis. Além disso, o que também sentimos é que as pessoas sabem que é necessário mudar hábitos e querem mudar hábitos, mas não sabem por onde começar. E é aí que a IKEA também procura ter um papel ativo. Ao inspirar à mudança, mostrando como é que pequenas e simples ações no dia a dia, podem ter um grande impacto coletivo no planeta. Queremos também demostrar que ser sustentável não tem de ser mais caro e que pode inclusive ajudar a poupar dinheiro ao fim do mês, seja através da poupança de energia, água ou da redução do desperdício alimentar. Como já referi.

Por exemplo, na IKEA, todas os chuveiros e torneiras são eficientes em termos de utilização de água e energia. Isso é conseguido graças a um regulador que reduz o fluxo da água. Embora saia menos água, não se nota qualquer diferença na pressão. Deste modo, consegue poupar uma quantidade significativa de água e de energia em comparação com um chuveiro ou torneiras sem um redutor de caudal.

6.Para si, ser “Beyond Green” é…?

Penso que é continuar a inspirar a maioria das pessoas levando-as a pensar e agir sobre o futuro do planeta. Pouco a pouco e com pequenas ações, podemos de facto reduzir o nosso impacto no clima e acredito que, enquanto profissional da área, mas também enquanto cidadã consciente, tenho também eu a responsabilidade e a oportunidade de influenciar as pessoas que me rodeiam a darem o primeiro (ou o próximo) passo.

Mas também a relembrar a dimensão social como parte integrante da sustentabilidade. Sem humanismo e justiça social não poderemos ter um futuro sustentável, pelo contrário, teremos os grupos mais vulneráveis permanentemente vítimas de crises e desigualdades. Por vezes, basta começar no nosso bairro, no nosso prédio ou nas escolas dos nossos filhos, para encontrar formas de fazer a diferença.

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