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Entrevista a Sérgio Ribeiro, CEO & Co Founder da Planetiers

1.Como surgiu o projeto Planetiers? Que balanço fazem do vosso projeto?

A Planetiers surge de uma enorme vontade que tinha, e partilhada com o nosso outro cofundador, Carlos Carvalho, de ter uma palavra a dizer na criação de uma sociedade e economia mais sustentáveis. Antes da Planetiers já tínhamos desenvolvido um jogo piloto com lições de sustentabilidade, um material distribuído pelas escolas do município de Guimarães. Tivemos excelente feedback das crianças e das escolas; queríamos, no entanto, algo que pudesse ser implementado de forma mais rápida. Em 2017 criámos então o marketplace exclusivo para produtos sustentáveis e assim nasceu a Planetiers. Depois de 3 anos em crescimento, foi notório que havia uma comunidade em volta destas nossas premissas e do documento em que as reunimos, a que chamámos “Manifesto Planetiers” – as linhas de orientação, os valores e as características-chave para uma pessoa com perfil Planetier. É alguém que, ao invés de se focar em “destruir o sistema”, pensa nas soluções, em promover o engenho e a criatividade da humanidade para os desafios que se vivem. É alguém que acredita e trabalha em modelos colaborativos. Foi aqui que se tornou claro que tínhamos de reunir esta comunidade para a partilha de conhecimento, experiências, contactos e recursos de forma a acelerarmos esta inovação e transformação sustentável de que tanto precisamos.

O balanço é tremendamente positivo. Temos 15.000 pessoas na nossa comunidade e provenientes de mais de 60 países. Realizámos 2 edições do Planetiers World Gathering, que nasceu logo como um dos maiores eventos dedicados à inovação sustentável, contando com 1.000 pessoas e 20.000 assistentes online em 2020, ano de pandemia. No ano passado tivemos já 4.000 pessoas a participar em 3 dias de evento e 13.000 online provenientes de mais de 100 países. Acima de tudo, temos criado um grupo de parceiros próximos de renome que está absolutamente empenhado em trabalhar com a Planetiers para fazer crescer a comunidade internacional e desenvolver projetos ambiciosos em diferentes cidades espalhadas pelo mundo.

2.Porquê a preocupação com a sustentabilidade?

O primeiro “porquê” é de fácil compreensão. Já se têm vindo a prever nas últimas décadas acontecimentos que, infelizmente, estão agora a ocorrer e que são devidos à insustentabilidade dos sistemas em que humanidade assentou a sua existência. Sistemas económicos, governamentais e sociais. Temos de mudar o mindset e a maneira de decidirmos e construirmos tudo o que queremos para a sociedade. Começando na educação dos mais pequenos, passando à formação dos profissionais, do setor público e privado, ao investimento nesse novo conhecimento e inovação. A sustentabilidade deixou de ser filantropia. É, neste momento, uma razão fundamental para as organizações se tornarem resilientes e mais competitivas. O nosso mundo está extremamente imprevisível.

Havendo também sempre um “porquê” mais pessoal naquilo que nos move, posso admitir que me faz muita confusão passar por esta vida e sentir que não deixei nada de bom ou melhor para trás. Sou muito exigente comigo no legado que deixarei. Acredito realmente que é neste exercício de nos entendermos melhor que reside a motivação para continuar e transformar o mundo.

3.A maior parte das empresas considera este conceito um desafio com vários obstáculos. Que importância tem a sustentabilidade para as empresas e para as marcas?

Implementar o mindset e os processos sustentáveis nas organizações é neste momento uma questão de competitividade; para alguns setores, até de sobrevivência. As alterações climáticas, as mudanças nos sistemas de água e o seu acesso, até a estabilidade social e económica mundial, são fatores que neste momento já se tornam muito difíceis de evitar. Por isso, é importante que as empresas adotem uma visão de trabalhar mais em equilíbrio com a natureza e com o nosso meio envolvente. É necessário, inclusivamente, também mais visão de regeneração, ou seja, trabalhar para além do “break-even” com o planeta. Regenerar ecossistemas outrora prósperos e agora destruídos pela atividade humana, além de ser crítico para recuperarmos o nosso planeta, é essencial para desenvolvermos negócios resilientes e igualmente prósperos.

Como marca, as organizações sairão também sempre a ganhar. Num mundo em que estamos cada vez mais a ser bombardeados com informação, o nosso cérebro defende-se mais ao se tornar mais criterioso naquela que deixa passar e armazenar. Não me parece haver melhor forma de conquistar consumidores ou parceiros do que nos relacionarmos pela partilha de valores.

4.Quais são os grandes desafios da sustentabilidade?

Neste momento acredito que seja o enorme intervalo que temos entre a urgência do tema e lentidão natural de uma mudança global, ainda para mais multissistémica. Estamos a falar de mudar educação, o sistema financeiro, as indústrias de produção e transformação, cadeias logísticas, e também os mercados de extração, seja de materiais ou para produção energética. É uma mudança que tem de ser conjunta e sistémica. É por isso que promovemos a conexão de instituições e organizações de todo o mundo, de vários setores e em diferentes fases de transformação. Precisamos de mais partilha e otimismo coletivo para compreender que é possível, e que é neste espaço que vamos encontrar as maiores oportunidades dos próximos anos.

5.Quais são as vossas principais preocupações enquanto organização e movimento que defende a sustentabilidade?

Mantenho-me nesta que considero a maior preocupação de todas: que não se consiga imprimir a velocidade necessária de mudança que o planeta e a sociedade realmente precisam. Mesmo nós, Planetiers, sentimos que estamos sempre atrás do percurso e mudança que é exigida. Mas não desistimos de aprender e continuar a evoluir. Aliás, esta é uma característica essencial para se ser um Planetier.

6.Que critérios são aplicados às marcas para serem vossas parceiras?

É necessário que reconheçamos a genuína vontade, missão e investimento que as empresas por detrás das marcas estejam a fazer nestes temas. Defendemos a inclusão de todos os sectores e áreas pelas razões que referi acima – precisamos de transformação sistémica e multissetorial. Se estivermos a falar com uma organização que, devido à sua atividade, impactou muito negativamente o planeta, mas apresenta um plano efetivo para se transformar, fará parte da Planetiers. Não excluímos pela fase de transformação em que as organizações estão, incluímos sim pela progressão comprovada.

A única justificação para exclusão do nosso ecossistema será a existência de provas de decisões propositadas ou negligentes que conduzam a impactos negativos na natureza ou pessoas.

7.De que forma a Planetiers pretende contribuir para promover soluções sustentáveis?

Nós começámos no online. Após vários problemas com fornecedores durante a pandemia, perdemos a capacidade de progredir nesse espaço. No entanto, voltaremos com novidades sobre como iremos promover mais através do espaço digital.

Continuaremos a promover o networking, a partilha e cooperação, local e internacional. Os eventos têm um papel fundamental nesta dinâmica e iremos investir cada vez mais nesta construção de frameworks para impactar os territórios com soluções sustentáveis.

Outras ferramentas estão a ser desenvolvidas e outros meios trabalhados para que num futuro breve também ganhemos a escala necessária e mais Planetiers por todo o mundo se juntem ao movimento e sejam eles próprios agentes de promoção de soluções sustentáveis.

8.Quais são as vossas previsões de tendências para o futuro?

Um futuro desafiante, no qual teremos de viver já com muitas consequências de ações do passado. No entanto, estamos absolutamente confiantes que a humanidade tem tudo o que é necessário para ultrapassar estes desafios e reverter este percurso atual para um novo caminho regenerativo.

Energia, Água e Economia Circular serão os temas mais urgentes. São, na nossa perspetiva e na de vários dos nossos conselheiros e parceiros, os pilares de toda a nossa sociedade e mercado. Se mudarmos rapidamente estes nossos processos de produção, gestão e despejo, será muito mais fácil recuperar sistemas prósperos em todas as áreas essenciais à nossa existência e à qualidade de vida, seja a agricultura, construção, transporte ou até mesmo a saúde.

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