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Entrevista a Gilberto Jordan do Grupo André Jordan

1.O Grupo André Jordan, para além de ser uma referência no seu setor de atividade é também um modelo a seguir no que respeita a práticas sustentáveis. Como e quando começou todo este processo em torno da sustentabilidade?

Quando em 1970 o meu pai, Andre Jordan, adquiriu a Quinta dos Descabeçados, no concelho de Loulé, Algarve, e que viria a ser a Quinta do Lago, ele escolheu este terreno exatamente porque lhe permitiria desenvolver um projeto de alta sensibilidade ambiental.

Ele diz que não estava em grande uso a palavra sustentabilidade naquela altura, mas orientou o plano com o que chamou de “bom senso e sensibilidade”. E passado 50 anos o resultado continua extraordinário e um exemplo ímpar na Europa e a nível internacional.

A sua anterior experiência profissional, alinhado com o know-how de promoção imobiliária e planeamento urbanístico, particularmente os conhecimentos que tinha das técnicas de “masterplanned comunities” americanas permitiu desenhar uma estratégia de integração residencial com o terreno e a natureza envolvente de maneira harmónica e respeitosa dos valores da preservação paisagística e ambiental.

Quando eu me incorporo na organização aquando da aquisição da Lusotur SA em 1996, o desafio foi igualmente enorme, mas de natureza diferente principalmente na sua componente ambiental e residencial. Tratou-se de introduzir correções no plano urbanístico existente, introduzir, agora sim, a “sustentabilidade” visando o longo prazo face a dimensão do desenvolvimento imobiliário e a fraca prestação ambiental e urbanística do resort existente.

Com milhares de casas e apartamentos, dezenas de hotéis e unidades turísticas, centenas de negócios e uma ampla oferta comercial e de restauração era necessário motivar e mover para a acção milhares de Stakeholders. Um dos instrumentos encontrado foi o desenvolvimento dos Sistemas de Gestao Ambiental e de Qualidade de acordo com a norma ISO 14001 e ISO 9001 alcançando de maneira pioneira a nível mundial a partir de 1998 a certificação dos campos de golfe, da Marina e das praias. Para além de inúmeras outras iniciativas. Também outras certificações como a Bandeira Azul, Green Globe Destination, Committed to Green, e diversos prémios e reconhecimentos como por exemplo da RICS, UN, Ford Foundation.

A extensa ação da Lusotur serviu adicionalmente para motivar e aguçar a ambição os demais players para irem além do que faziam e desenvolverem uma ambiciosa estratégia de ação ambiental.

2.Foram responsáveis pela criação do primeiro “Bairro Solar “com o objetivo de promover a produção de energia solar renovável, integrado numa cultura de partilha em comunidade. Estará Portugal preparado para criar e desenvolver mais projetos com este propósito?

Quanto aos novos paradigmas energéticos, Portugal é um país particularmente privilegiado e, portanto, preparado do ponto de vista de matéria-prima (vento e sol). O transporte a grande distância da fonte de energia tem um factor de perca significativo pelo que a produção local, de proximidade ou regional de energia faz todo o sentido, principalmente associado ao respectivo consumo ou necessidade. O desenvolvimento tecnológico permite ter sistemas de gestão (micro-grids) para produzir, injetar, distribuir e consumir de maneira eficiente (smart-grids) electricidade fotovoltaica.

Está ao nosso alcance ter bairros solares principalmente em áreas residenciais de menor densidade e fora dos centros mais densos para onde deverá ser canalizada a energia de fonte renovável produzidas em grande escala como nas wind farms e dos grandes parques solares. Tal como hoje, as mesmas são alimentadas pelas centrais de fonte fóssil e que terão de ser substancialmente reduzidas e em elevada escala nas próximas décadas. No Belas Clube de Campo construímos, com a ajuda da tecnologia desenvolvida pela AMPERE e suas baterias e sistemas inteligentes, as primeiras casas Nearly ZEB em Portugal que foram e são ainda um sucesso e um exemplo, contribuindo para os objetivos de uma reduzida pegada carbónica entre muitas outras valências incorporadas no design e construção constituindo adicionalmente um verdadeiro net positive energy neighbourhood NZEN.

3.Em Portugal, a pobreza energética é ainda uma realidade. A maioria das nossas habitações não está preparada para o frio nem para o calor. Na sua opinião, quais são os principais obstáculos que surgem em termos de acesso a condições energéticas favoráveis na habitação?

Se bem que compreensível a expressão mais adequada para a pobreza energética deveria ser pobreza construtiva. A pobreza energética em geral define a incapacidade de assegurar dentro de casa uma amplitude térmica de conforto. Isto se deve à fraca ou fraquíssima qualidade das nossas construções, prevalente em 90% do stock residencial nacional, principalmente anterior aos anos 1990. É muito claro que a reversão desta situação exige uma ampla renovação do parque habitacional seja pela construção nova seja principalmente pela reabilitação do existente. Um verdadeiro desafio nacional de muito difícil e onerosa realização onde todos terão de participar, indivíduos, instituições, municípios e administração central. E não vale a pena pensar em típicos ciclos eleitorais. Isto é um desafio geracional.

4.Para si, ser “Beyond Green” é…?

Ser Beyond Green é ter grande ambição e com muito trabalho e realismo com pragmatismo, encontrar, desenvolver e executar um caminho e uma proposta de valor positiva de sustentabilidade para o indivíduo, a iniciativa empresarial e a sociedade no seu mais amplo sentido.

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