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A nova construção vai pesar mais na oferta

Paulo Silva, Head of Country da Savills Portugal: “Em 2020, o impacto da pandemia fez-se sentir nas zonas mais centrais de Lisboa, onde se concentra a maior fatia de oferta habitacional de luxo muito atrativa para o mercado internacional”.

De origem britânica, a centenária Savills entrou em Portugal quando adquiriu a espanhola Aguirre Newman, em 2018, precisamente no ano em que o mercado imobiliário atingia um pico, lembra Paulo Silva, Head of Country do grupo em Portugal: “A venda de habitações em Portugal teve um crescimento em número até 2018, tendo vindo a registar uma diminuição desde então. Por sua vez, quando analisamos o volume de investimento associado, este só registou uma diminuição de 2019 para 2020.”

De acordo com a análise feita pela Savills dos números do SIR (Sistema de Informação Residencial), este ano está a inverter essa tendência : “No primeiro trimestre de 2021 foram vendidas 49.608 casas, 57% acima do primeiro confinamento (segundo trimestre de 2020). Por sua vez, estabelecendo uma comparação idêntica a nível regional, as vendas aumentaram 47% na Área Metropolitana (AM) de Lisboa, 46% na AM Por to e 76% no Algarve.”

Paulo Silva detalha que “nos últimos dois anos, todos os concelhos da AM Lisboa registaram evoluções de preço positivas”. O concelho de Lisboa foi o que registou “a menor variação de preços com 5.4% entre os anos 2019 e 2020, colocando-se no final da tabela e provando o início de uma trajetória de estabilidade e desaceleração de crescimento de preços”. Isto deve-se ao “aumento de uma maior procura por localizações mais periféricas, com bons acessos ao centro de Lisboa”. Por outro lado, a dificuldade de acesso ao mercado de habitação na cidade de Lisboa conduz a “variações de preços mais expressivas em concelhos como Palmela (+21,9%), Barreiro (+21,4%) Sintra (+17,6%) ou Montijo (+16,5%)”. Dentro do segmento médio-alto, “os concelhos de Oeiras e Cascais têm também observado variações positivas interessantes de 9,7% e 12.2% respetivamente e constituído uma opção muito válida para todos aqueles que procuram aliar qualidade/design das habitações, com qualidade dos espaços exteriores e usufruir também de todos os benefícios de estar próximo da linha costeira”.

O gestor sublinha que a procura reflete as novas necessidades das pessoas e das famílias, confinadas às suas habitações: “Verificou-se um aumento exponencial da procura de moradias quer pela necessidade de espaço exterior quer pelo facto de muitas pessoas passarem a trabalhar em modo remoto. A necessidade de estar nos grandes centros urbanos tornou-se menos premente e por isso as zonas periféricas ganharam espaço na preferência dos compradores, onde a relação espaço/preço é mais atrativa”.

Se “um dos grandes impactos da pandemia foi ao nível da mobilidade”, o mercado residencial, tradicionalmente, dependente “de visitas presenciais, dado o volume de investimento e o fator emocional que envolve a decisão de comprar casa”, teve que inovar e apostar no digital. “Este processo continuará a evoluir, com mais visitas virtuais, mais e melhor qualidade da divulgação dos imóveis, mas o método tradicional e o papel do consultor imobiliário continuarão a ser fundamentais”.

Na Savills, “os consultores adaptaram-se às condicionantes que os diversos confinamentos trouxeram para continuar a servir os clientes: marcaram inúmeras visitas virtuais, muitas delas que se estão a materializar em visitas presenciais e negócios”.

A procura por parte de investidores estrangeiros desceu, acusando as dificuldades de viajar entre diferentes países, observa Paulo Silva: “Em 2019, os não-residentes foram responsáveis por 8,5% das casas vendidas e 13,3% do montante total transacionado. Comparativamente ao ano 2018, assistiu-se a uma descida de 2% no número de casas vendidas.

Em 2020, o impacto da pandemia fez-se sentir nas zonas mais centrais de Lisboa, onde se concentra a maior fatia de oferta habitacional de luxo muito atrativa para o mercado internacional. As fortes medidas proibitivas de livre mobilidade e realização de viagens, foram obviamente o principal obstáculo para a concretização de operações, tendo sido estimada uma quebra de 50% entre o primeiro trimestre e o segundo trimestre de 2020 no número de imóveis vendidos.”

O Head of Country da Savills Portugal sustenta que apesar de “2020 ter sido um ano de desafios inesperados”, o mercado soube responder: “Desde final de março que assistimos a um aumento da procura por parte de compradores internacionais, que com a abertura do espaço aéreo irá intensificar-se. A recente notícia que coloca Portugal na lista verde de países cujos passageiros não necessitam de fazer quarentena no regresso ao Reino Unido é uma excelente notícia. O local que se escolhe para viver tem cada vez maior relevância. Portugal continuará a ser um mercado com preços competitivos e que oferece um estilo de vida diferenciador. Estes dois fatores juntamente com o facto de as empresas estarem hoje a potenciar o trabalho remoto, aumentarão a procura por clientes internacionais que escolherão Portugal como um destino preferencial para viver em permanência ou passar longos períodos no nosso país.”

O número de solicitações por parte de estrangeiros à Savills começou a aumentar sobretudo a partir do início do segundo trimestre: “Com o aumento da possibilidade de trabalho remoto, há cada vez mais pessoas a escolher Portugal para fixar habitação própria permanente ou segunda habitação. Temos tido clientes de várias nacionalidades, tanto estrangeiros que já habitam em Portugal e querem mudar de habitação, como clientes internacionais que querem vir para Portugal pela primeira vez. Os portugueses, devido às circunstâncias, estiveram muito ativos no mercado para procurarem habitações de maior dimensão e com espaço exterior. No caso dos investidores, existe uma tendência crescente de investir em ativos para arrendamento de longa duração (multifamily). Por um lado, devido aos preços crescentes nos centros urbanos e a oportunidade no mercado de arrendamento de longa duração. Por outro lado, pela quantidade de clientes internacionais que procuram habitações para arrendamento nos grandes centros urbanos, algo que estão habituados e que valorizam.”

Reconhecendo que ainda há muito a fazer no domínio da reabilitação do edificado, os responsáveis da Savills avançam que a nova construção será mais dinâmica nos próximos anos: “Basta olhar em nosso redor para concluirmos que o processo de reabilitação ainda está por concluir. No entanto, nos próximos anos, vamos assistir a uma mudança do peso relativo entre a reabilitação e a nova construção. Esta última irá assumir um peso maior na oferta de produto imobiliário.”

 

Fonte: Entrevista a Paulo Silva publicada na Revista Actualidade Economia Ibérica de Junho 2021.

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